Nova técnica usa nanocorpos para entregar tratamentos com RNA mensageiro

Na pandemia de COVID-19, vimos a implantação bem-sucedida das vacinas de nanopartículas de lipídios (LNPs) e RNA mensageiro (mRNA). Elas funcionam como uma “mensagem” que ensina nossas células a produzirem uma parte inofensiva do vírus – no caso, a proteína Spike do vírus SARS-CoV-2 – que o sistema imunológico aprende a reconhecer como um agente causador de doenças a ser combatido. A partir disso, nosso corpo se prepara para se defender de futuras infecções pela mesma doença, produzindo anticorpos e outras células de defesa.

Há um grande interesse em desenvolver sistemas precisos, controlados e economicamente viáveis como esse para o tratamento de doenças com RNA mensageiro. Porém, o desafio é que as formulações atuais de nanopartículas de lipídios são como “cartas sem endereço”. Elas se espalham pelo corpo e não chegam com eficiência onde são necessárias, o que limita seu uso para tratar outras doenças.

Pensando nisso, cientistas criaram uma solução engenhosa: um método simples que usa um nanocorpo com receptores especiais. Eles se ligam aos nossos próprios anticorpos, células de defesa que agem como um GPS, ou seja, reconhecem células específicas e guiam as nanopartículas de lipídios, carregando o mRNA diretamente para o alvo.  Esse estudo conduzido por Moore Chen e a sua equipe (2025) releva uma nova técnica extremamente poderosa, com resultados mais de 1.000 vezes melhores do que as nanopartículas sem direcionamento e 8 vezes melhores que as técnicas tradicionais que utilizam anticorpos.

A Figura 1 ilustra em um esquema a grande diferença entre os métodos antigos e essa abordagem inovadora. As técnicas convencionais são exemplificadas em “a” e “c”, onde os anticorpos (que seriam o ‘GPS’) são presos de forma aleatória na superfície das nanopartículas – sem essa orientação, sua eficácia em encontrar o alvo diminui significativamente. Já em ‘b’, é mostrada uma outra tentativa de melhorar a entrega, usando um peptídeo específico para acoplar o anticorpo, mas que ainda não resolve completamente o problema da orientação. E na parte ‘d’ é mostrada a nova técnica chamada TP1107. Aqui, o anticorpo é capturado e fixado na orientação ideal pelo nanocorpo. Isso garante que ele esteja sempre apontando na direção certa, maximizando a chance de encontrar e se ligar ao alvo correto, entregando sua ‘mensagem’ de mRNA com a máxima precisão e eficiência.


Figura 1. Esquema do sistema de captura TP1107 que anexa anticorpos às nanopartículas de lipídeos em sua orientação ideal em comparação com as técnicas tradicionais. 
Fonte: Chen, Yuen, McLeod et al., 2025.

Essa nova tecnologia já foi testada em organismos vivos e teve grande sucesso ao se conectar às células T. Essas células são fundamentais para o sistema imunológico, destruindo células infectadas e coordenando outras defesas do corpo. Além disso, o nanocorpo se mostrou muito preciso, entregando o tratamento de forma mínima a outras células, o que prova sua alta especificidade. Isso significa que ele vai diretamente para o alvo, minimizando os efeitos colaterais.

Esses resultados abrem um caminho promissor para o futuro das terapias com mRNA, indo além das vacinas. Isso porque é possível trocar facilmente o ‘GPS’, ou seja, o anticorpo, para direcionar as nanopartículas para diferentes tipos de células. Por exemplo, em vez de guiar a partícula para uma célula T (como foi feito no estudo), é possível usar um anticorpo que reconhece e se liga apenas a células de um tumor. Essa capacidade de ‘mudar o alvo’ é o que torna a tecnologia tão promissora. Ela abre portas para tratar uma enorme variedade de doenças. Isso pode revolucionar o tratamento do câncer, doenças autoimunes e até mesmo doenças genéticas, pois a precisão na entrega do ‘remédio’ se torna a principal aliada do tratamento. 

Para saber mais, acesse: Chen, Yuen, McLeod et al. Um sistema versátil de captura de anticorpos promove a administração in vivo específica de nanopartículas lipídicas carregadas com mRNA. Nat. Nanotechnol. 20 , 1273–1284 (2025). DOI.: https://doi.org/10.1038/s41565-025-01954-9

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